O Despertar Psíquico: No vazio
Entre os aeldari pertencentes aos mundos-colônia, e os bandos que infestam a cidade-estado de Commorragh estão os Corsários, grupos independentes que percorrem o espaço em busca de aventuras e butins. Melissa Roddis conta como estes piratas lidam com a constante ameaça dos Hereges Astartes, e como os estranhos fenômenos que ocorrem na galáxia tem influenciado nas relações das inúmeras facções do Warhammer 40k.
Mais uma explosão impactou a nave, derrubando a tripulação.
“Evadir!”, gritou o príncipe corsário, cambaleando no momento em que a Lança de Asuryan era novamente atingida.
No monitor de vigilância, Estelar observava a grande batalha que ocorria, na qual duas belonaves ornamentadas perseguiam um transporte de sua frota como tubarões em cima de um cardume. As proas das naves hostis eram toscamente pintadas de púrpura e dourado – os tons inconfundíveis dos adoradores de Slaanesh.
Projéteis de energia rasgavam a escuridão, transformando o vazio do espaço em um entrecortado de luzes abrasadoras. Chamas pululavam ao longo das negras colunas das grandes naves, mas os atacantes não mostravam hesitação.
Uma bola de fogo irrompeu, próxima, quando o Fúria da Tempestade explodiu em um infinitas partículas luminosas.
“Amharoc depende de nós para fazer este encontro”, disse o navegador em seu ouvido, como se ele não soubesse de sua missão.
“Ela tem outro nome agora”, respondeu Estelar.
“O nome dela não importa se formos explodidos em pedacinhos aqui”, retrucou o conselheiro.
Embora numerosos, a esquadra de naves piratas não eram páreo para a blindagem e o poder de fogo das grandes naves de Slaanesh.
“Tragam Tasar”, ordenou Estelar. “Hoje, os corsários precisam fazer o que fazem de melhor”.
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No caos do combate, duas naves de assalto foram sutilmente lançadas do hangar do Lança. Emitindo sinais anti-detecção, cortaram o vazio e desapareceram sob a sombra de um dos encouraçados de Slaanesh. A primeira se dirigiu à proa, prendendo-se ao leviatã como um parasita.
“Estamos firmes, Barão”, disse o piloto, quando com um sutil solavanco, a nave corsária se prendeu ao casco da nave inimiga com seus ganchos de abordagem.
“Comece a cortar. Não temos muito tempo”, instruiu o Barão Tasar, diante da escotilha, pistolas em punho.
Faíscas voaram quando a lâmina monomolecular cauterizou a blindagem escura da belonave, até cortar uma entrada circular.
“Comigo”, disse Tasar aos seus ceifadores, atravessando o túnel de abordagem e entrando na fortaleza inimiga.
Os corsários se esgueiraram pelos corredores escuros, cujos espinhos e gravuras obscenas tornavam o interior ainda mais horrendo que os adornos externos do encouraçado. Gritos irracionais ecoavam por todo lugar; Tasar não sabia dizer se eram gritos de agonia, de êxtase – ou ambos.
Naquele momento o grande cruzador reagia aos cortes feitos pelo transporte corsário, como se sentisse prazer em sua dor. Mesmo assim, era como se ratos estivessem tentando penetrar as escamas de um dinossauro. Os corsários jamais venceriam sozinhos esta batalha usando poder de fogo.
Um lampejo revelou um grupo de Hereges Astartes adiante, ostentando o signo das Crianças do Imperador. Nenhum deles usava elmo, mostrando seus rostos marcados com cicatrizes vermelhas.
Os ceifadores se esconderam nas sombras até que os fuzileiros estivessem bem próximos, então atacaram com suas lâminas curvas. Em iguais condições, os guerreiros aprimorados facilmente destruiriam os leves Aeldari, mas eles não esperavam uma luta. O vermelho nas espadas se destacou na escuridão, quando os hereges tombaram, com novos cortes ao longo de seus rostos desfigurados.
“Por aqui”, ordenou Tasar, seus instintos dizendo-lhe para onde deveriam ir. Passara a vida inteira em naves, e embora nenhuma delas tivesse sido igual àquela, todas as naves eram construídas com os mesmos princípios. Ele já se sentia mais confiante quando um alarme ensurdecedor ressoou, um lamento agonizante que forçou todos os Aeldari a tapar os ouvidos. Tinham sido descobertos.
“Vamos em frente”, sinalizou Tasar, apressando o passo. Sem mais sutilezas, todos os seguiram no mesmo ritmo, atirando naqueles que tentavam detê-los. Alguns corsários foram atingidos, mas eles eram muito rápidos para os truculentos Astartes. Conforme se aproximavam da ponte de comando, o pesado ressoar de passos anunciava a chegava de um grande contingente de Fuzileiros do Caos em sua retaguarda. Tasar ergueu seu cintilescudo bem a tempo de neutralizar uma poderosa salva de rajadas sônicas, enquanto seus homens atacavam os controles da nave.
Em seu encalço estavam duas dúzias de Fuzileiros, incluindo aquele que claramente comandava a nave, que usava uma armadura mais medonha do que os demais. Se jogando atrás dos consoles, os corsários evitaram os primeiros disparos, mas a câmara foi tomada por ataques ensurdecedores conforme os Cacófonos alcançavam seus alvos. Cinco ceifadores morreram instantaneamente, derramando sangue pelos ouvidos. O restante respondeu aos disparos, lançando uma tempestade de lâminas monomoleculares. Um dos Fuzileiros caiu, retalhado como se tivesse sido devorado por milhões de insetos.
Mas ainda haviam inimigos demais, e Tasar sabia que seu tempo estava se esgotando.
“Não temam”, gritou. “A morte virá para todos”.
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A outra nave de abordagem corsária não seguiu a mesma rota da primeira; dirigir-se ao flanco inferior da besta de Slaanesh, infiltrando um pequeno grupo de corsários pelos corredores sombrios.
Avançando silenciosamente pela nave, encontraram pouca resistência, já que a tripulação inteira se dirigira temerosamente para a ponte de comando – como previra Tasar. Ao alcançar o maquinário da nave, os corsários plantaram centenas de esferas opalescentes, disfarçadas entre os cabos e estruturas decorativas. Tão rápido quanto chegaram, saíram. Como fantasmas.
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A ponte de comando estava tomada pelo fogo, consoles destruídos pela munição explosiva, e cabos de força faiscando vivos pelo chão. Mais ceifadores tombaram para os Fuzileiros, que exultavam com o massacre.
Um grave barulho reverberou pela belonave. Então vieram os tremores, muito mais violentos do que aqueles causados pelos navios corsários lá fora. Partes do casco racharam e se romperam, caindo sobre os confusos Hereges Astartes. O fogo se espalhou pela ponte, consumindo-os, que se contorciam no chão. Os ceifadores abriram fogo novamente, aproveitando-se da confusão. Liberando seu caminho, deixaram a ponte de comando completamente arrasada. As chamas vomitadas pelas tubulações quebradas devoraram os sobreviventes.
Tasar guiou seu bando pelo labirinto de corredores, onde o pandemônio se instalara. Parte do teto tinha desabado e uma viga distorcida atravessara o abdome de um Astartes. Outros estavam soterrados, suas faces revelando uma dolorosa agonia. O líder corsário os observou, enojado.
Uma comoção chamou sua atenção, e ele se virou para ver um bando de cultistas se acotovelando para entrar nas cápsulas de fuga. Ia ordenar a execução deles, mas algo fez com que hesitasse. Eles eram humanos, mas não tão humanos. Pareciam primatas, mas…
Nesse meio tempo, uma estranha figura se uniu a eles. Pele tão pálida quanto a de um espectro, flutuando através das chamas como se cavalgasse as brumas. Um Haemonculus de Commorragh.
Tasar até se perguntou o que um iniciado fazia em uma nave dos Hereges Astartes, mas o cruzador tremeu mais uma vez, em seus momentos finais. Ele olhou para trás, mas nada viu além de fumaça e cinzas. Tinha sido sua imaginação, concluiu, e liderou seus homens de volta ao transporte.
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No convés da Lança de Asuryan, o Príncipe Estelar permitiu-se um grande sorriso. O maior dos encouraçados Slaanesh estava se despedaçando, as chamas escapando por suas colunas. Ao se romper, chocou-se em sua nave irmã, cuja proa se estilhaçou, espalhando dezenas de corpos no vazio.
“Retomar a rota”, disse, e as velozes naves corsárias aceleraram, deixando apenas a morte em seu rastro.