O Despertar Psíquico: O chamado do Waaagh!
De Andy Clark. Original aqui.
O Deserto Quebradente ardia. Carcaças cobertas de balas jogadas por todos os lados, como se a mão do próprio Gork tivesse atingido a região. Caminhões e carros envenenados com seus tetos removidos, nos quais pilotos ork rugiam e batiam cabeças. Uma fumaça negra se erguia dos tanques de combustível e da reservas de munições incendiadas; munições explodiam aqui e ali, atingindo o metal retorcido com um ruído seco. Nos arredores, também em chamas, dezenas de torres de perfuração também reforçavam a nuvem negra que pairava sobre a carnificina.
Mas nem toda aquela fumaça poderia ocultar a loucura nos céus. Acima de sua cabeça, Thragrot via rajadas coloridas de energia indo e vindo no que costumava ser o céu verde-acinzentado de Grug. O Nob dos Deathskull tinha a impressão de enxergar rostos maliciosos em meio ao show de luzes, e não pareciam os rostos de Gork e Mork admirando o espetáculo proporcionado por seus filhos. Aquilo era algo que Thragrot não conseguia compreender. Algo sobrenatural do qual não queria fazer parte.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma pancada forte na parte de trás de seu capacete. Ele se virou, enraivecido, as presas à mostra, e viu Big Morg encarando-o.
“Cê vai ‘ncará o céu o dia todo, ou vai se juntá a nóis?”, resmungou Big Morg.
Thragrot então percebeu que os tiros ainda cruzavam o campo de batalha, e que a gangue de Goffboss Blackfang estava atacando novamente. Vários Deff Dreads tomavam a dianteira, e seus braços mecânicos chiavam e rangiam enquanto atiravam nas carcaças, nas torres e nos Deathskull.
À sua volta, a legião pintada de azul e veículos improvisados apontavam suas armas truculentas e atiravam contra o bando que se aproximava. Rajadas de energia esverdeada rasgaram o espaço e explodiram um gigantesco Carro d’Guerra negro. Salvas de foguetz e projéteis lançados pelos Saquiadorez de Ratchit faziam os Goffs parecerem bêbados, os corpos cambaleando e se desfazendo. O bando de Thragrot também abriu fogo, urrando de êxtase conforme seus tiros e explosões avançavam na direção do inimigo. O barulho era ensurdecedor.
“Como num percebi isso?”
Mas ele sabia. Desde que os céus tinham ficado estranhos, era arriscado observá-lo por muito tempo. Alguns dos rapazes tinham ficado perturbados ao olhar pra cima; e agora o bando de Snagrack agora tinha muito mais Malukoz do que antes.
“E num foi só os Malukoz que aumentou”, pensou Thragrot com um arrepio. Mesmo com a chegada dos Goffs de Blackfang, gritando enlouquecidos em mais uma investida em meio às carcaças incendiadas, era possível ouvir os mesmos ruídos à retaguardas das fileiras Deathskull.
“Karai, o chefe soltô ‘s Bizarroz otravêz”, gritou Grazbag Oio-morto, sob os gritos de guerra dos Goffz e a cacofonia do tiroteio provocado pelos companheiros.
Thragrot ativou os controles de seu trabuko, pressionou os gatilhos extras e mandou um trio de foguetz em direção ao inimigo. Sorriu ao assistir dois deles penetrando o primeiro Deff Dread e arrancando uma de suas pernas, deixando um rastro de óleo e faíscas. Com um pequeno rugido, a máquina caiu de bruços, enquanto seu piloto gesticulava e gritava enfurecido.
Desviando o olhar, Thragrot finalmente olhou para trás, onde um bando de truculentos Guardiõez estava incitando os Bizarroz do Chefão Snagrack. Algum espertinho do bando tinha chamado esses pobres-coitados de “Squadrão Siniztro” e o nome ficara; agora o grupo era conduzido à vanguarda, com seus mantos sujos, capuzes, guizos e badulaques pendurados pelo corpo. Estranhas luzes esverdeadas dançavam por suas cabeças e entre seus dedos, e uma substância verde fluorescente escorria de seus olhos, narinas e ouvidos.
“Boa luta, né?”, disse Big Morg. “Muito Waaagh!”
“Torça pra que eles num venha pra nosso lado”, respondeu Thragrot, já sentindo uma dor aguda entre os olhos, e os membros formigarem.
Conforme os Bizarroz se aproximavam, seus carcereiros arrancaram os varões de cobre que isolavam as infelizes criaturas da energia do Waaagh!, que arrebatou-lhes quase que imediatamente.
“Eles jájá vai explodí umas cabeça”, disse Oio-morto, mas qualquer opinião que tivera sobre aquela situação jamais seria conhecida. Um machado gigantesco surgiu subitamente no crânio de Grazbag, e o Nob tombou espalhando sangue por todo o lugar.
“WAAAGH!”, soou o grito de guerra dos Goffs, e os orks de armadura negra surgiram sobre as carcaças do Squadrão Velozz de Nazmog e investiu sobre os Deathskulls. Thragrot sentiu a excitação através de si, largando o trabuko e sacando o par de machados de suas costas, a tempo de encontrar a massa barulhenta de peleverdes que caía sobre ele.
Uma lâmina rápida veio em sua direção, mas Thragrot a bloqueou com suas armas antes de chutar seu atacante entre as pernas, e cortar sua cabeça com um golpe descendente. O próximo ataque sofrido viera de um machado gigantesco, empunhado por um igualmente gigantesco veterano Goff, mas Thragrot se adiantara e desviara a lâmina inimiga para longe, aplicando em seguida uma cabeçada bem entre os olhos de seu adversário.
Tão logo o inimigo recuou, outro deles apontou sua metranka à queima roupa para o Deathskull e puxou o gatilho.
“Click”. Descarregada.
“Azul dá sorte”, zombou Thragrot antes de cortar o Goff no meio. Antes mesmo de finalizar seu movimento, um grito em uníssono ecoou pelo lugar, e uma terrível pressão tomou conta do crânio do Nob, seguido por uma explosão de luzes verdes, como se algum lunático tivesse disparado lasers orbitais no meio da briga.
“Karai, O Squadrão Siniztro!”, gritou Thragrot, que esquecera que os Bizarroz também estavam ali. Uma explosão ocorreu no instante seguinte, e uma onda de energia verde jogou-lhe longe, bem como sobreviventes de ambos os lados.
Os veículos destruídos também foram arremessados, caindo distante do epicentro da catástrofe. Por pouco Thragrot não fora esmagado pelos restos de um Deff Dread inimigo, que sobrevoou sua cabeça enquanto seu piloto gritava e xingava, desesperado.
Até que o Nobz se chocou contra uma placa de metal com força suficiente para quebrar-lhe os dentes.
Ainda perplexo, e por ora desinteressado nos Goffs que pululavam à sua volta, Thragrot olhou na direção onde os Bizarroz estariam. Certamente veria uma grande e incandescente cratera esverdeada.
Ao invés, observou, maravilhado, inúmeras formas brilhantes percorrendo o espaço. Seus olhos arregalados testemunharam criaturas etéreas embarcando em espaçonaves construídas com toda aquela sucata. Eram claramente orks, com seu inconfundível porte físico e armamentos, atravessando o espaço e mergulhando garganta abaixo daquele… buraco distorcido no firmamento!
A visão distraiu Thragrot por alguns momentos, mas ele voltou a si quando viu os mesmos orks – muitos mais do que poderia contar – saltarem de suas sucatonaves e envolverem-se na maior batalha que já vira. Inacreditável. Inspiradora. Muito mais do que imaginava ser possível.
Ao final da visão, o Chefão Snagrack subiu sobre um Carro d’Guerra destruído. Ergueu a cabeça decepada de Goffboss Blackfang com sua garra mecânica e gritou com todas as suas forças.
“Essa luta acabô! Gork e Mork têm tarefa melhor que quebrá dente um do outro! É hora do Waaagh!”
“Waaagh! Snagrack!”
Alguns Deathskulls gritaram primeiro, depois outros mais, e logo os Goffs se uniram ao grito de guerra.
“Waaagh! Snagrack! Waaagh! Snagrack!”
Thragrot gritou junto com os demais, e percebeu que jamais houve um momento melhor em sua breve e violenta vida.
“As coisas vão ficá interessante”, pensou.