O Despertar Psíquico: O banquete
De Dirk Wehner. Original aqui.
Francas gargalhadas tomaram o salão cavernoso, acompanhadas pelo crepitar das lareiras que tingiam aquele vasto local com tons alaranjados. Em volta de uma grande mesa de madeira cuidadosamente entalhada, completamente coberta com carnes e bebidas, sentavam-se guerreiros, que erguiam seus chifres em mais um brinde; os Space Wolves celebravam sua vitória mais recente.
“…então eu agarrei o ork pelo pescoço…” – o brilho do olho biônico de Gillir Thunderstone fez jus ao tom de sua voz – “e arremessei o maldito para os lobos! Juro que o xenos imundo uivou mais alto do que toda a matilha!”
Outra intensa leva de gargalhadas ecoou entre os celebrantes, e chifres transbordantes se chocaram. Em uma das extremidades da mesa, o Grande Lobo, Logan Grimnar, ouvia as histórias de guerra de seus guerreiros, e sorria. Mesmo naqueles tempos sombrios, a coragem e o espírito do Capítulo permanecia inabalado. Tomou mais um gole de seu chifre, e ajustou suas peles cinzentas em volta dos ombros enquanto seu olhos percorriam toda a mesa. Seus irmãos exultavam após enfrentar e derrotar uma poderosa Waaagh! reunida no sub-setor Javarian. Depois de tudo que o Capítulo passara no último século, orgulhava-se mais pelo fato de que os Lobos ainda lutavam, confiantes e implacáveis.
Pausou por um momento quando seu olhar encontrou o olhar de Alvari Gloomwolf. Apesar da alegria que tomava o grande salão, o velho Rune Priest fazia jus ao nome; seu olhar gélido sob o capuz cinzento de lã era carregado de pesar. Grimnar não foi o único a perceber.
“Não celebras conosco, irmão Gloomwolf?”, perguntou Gillir. “Não bebes pelos caídos, nem ris com os vivos?”
Alvari desviou o olhar. “Não há nada a celebrar, irmão”, sussurrou. Aquelas poucas palavras causaram um efeito instantâneo na atmosfera do lugar, e a temperatura começou a cair.
“Nada a celebrar?”, rosnou Gillir. “Nossos irmãos morreram em vão? Libertamos o sub-setor sem propósito?”
Alvari ergueu-se e alisou cuidadosamente sua barba longa e trançada. “Lamento, Thunderstone. Não queria desrespeitar os caídos”. Então se voltou para o Grande Lobo, que observava o diálogo em silêncio. “Tivemos uma grande vitória sobre os orks, Lorde Grimnar, mas minhas visões continuam, no mínimo, preocupantes. Contudo, este não é o o momento para falar sobre isto, pois é tempo de celebrar – mesmo que não seja meu desejo fazê-lo.”
Com tais palavras, o velho dirigiu-se para a grande porta metálica, imediatamente aberta por vassalos vestidos com mantos e peles cinzentas.
“Então desrespeitarás nossos mortos?”, rugiu Gillir, levantando-se de sua cadeira.
“Basta!”, gritou Grimnar. “Dirigir-se a um Rune Priest assim? Só vejo um desrespeitoso nesta sala.”
O resto dos Astartes começou a cochichar entre si, sendo rapidamente silenciados quando Alvari cambaleou. Faíscas dançaram em volta dos olhos luminosos do Rune Priest, e sua voz ressoou.
“Nada sabeis sobre o que há de vir, Gillir Thunderstone!”. O salão parecia mais escuro conforme o sacerdote avançava em direção a mesa. “A vitória no sub-setor Javarian foi inútil. Os peleverdes retornarão, mais fortes de que nunca!”
Um vento gélido uivou através do salão, e as chamas das lareiras ficaram verdes e arderam mais intensamente, projetando nas paredes sombras negras que fizeram Grimnar lembrar seus brutais inimigos.
“Os trasgos verdes estão se espalhando por toda parte”, retrucou Alvari. Sua voz vinha acompanhada pelos rugidos distantes e pelo ruído trovejante das armas de fogo.
“A torrente verde agita os mares infindos. Incontáveis são os navios que naufragam, incontáveis são os guerreiros afogados pela destruição trazida pelo rei dos trasgos. Sobre seu trono de metal escuro, ele balança seu elmo ornamentado, gargalhando de satisfação. Ele grita por mais, e mais de seus guerreiros surgem. Como um ciclone que tudo engolfa, o rei dos reis se prepara para sua guerra definitiva”.
Logan Grimnar ergueu-se lentamente de seu assento, pondo as mãos sobre a mesa. O toque da madeira pareceu-lhe confortante e natural, em contraste com o resto do cenário, que parecia cada vez mais surreal após a profecia de Alvari Gloomwolf. O Grande Lobo e seus guerreiros assistiram com os cenhos franzidos a violenta tempestade de palavras trazida pelo Rune Priest.
“Seus rugidos precedem a morte de bilhões quando sua ira recai planeta após planeta. Nada permanecerá ante a fúria do rei verde, que é temido mesmo pela sua espécie. Um estandarte em frangalhos, ostentando chifres negros, se ergue, e o fogo e destruição se derramarão sobre a Humanidade. Lamento! Desespero!”
De repente, as chamas no grande salão assumiram tons azulados. Novas sombras se imiscuíram com aquelas nas paredes – formas de lobos mostrando as presas e lançando-se contra o inimigo.
“Mas onde o medo se manifesta, também o faz a bravura”, gritou o Rune Priest, abrindo os braços. “O lobo negro deixará a escuridão de sua morada. Seu ataque será temeroso, mas sangue será tomado. O rei verde e o lobo negro se encontrarão, e à beira do abismo da morte lutarão. O lobo ainda não deu seu último suspiro. O rei verde espera. O destino espera!”
Com tais palavras, Gloomwolf bateu suas mãos, enviando uma onda de choque que soou como um trovão por todo o salão, e transformou as chamas indomáveis em tremulantes nuvens de fumaça. Com um último olhar selvagem, olhou ao redor e deixou o local, envolto em seu manto escuro. Tão logo saiu do salão, as luzes extinguidas arderam novamente, envolvendo o local em seu halo avermelhado.
Os Space Wolves se entreolharam. Gillir Thunderstone abriu a boca, então fechou-a e sentou novamente. Logan Grimnar moveu lentamente a cabeça, em assentimento.
“Bem…”, finalmente quebrara o silêncio. “É melhor que alguém descubra em que lugar desta maldita galáxia encontraremos Ragnar Blackmane.”
1 Resultado
[…] últimos meses, os Rune Priests do Capítulo foram universalmente atormentados por visões perturbadoras de trolls grotescos, com peles verdes e rugosas de carne. O mais problemático de todos era a […]